04 fevereiro 2014

Dia da luta contra ele!

Odeio a palavra cancro!! Odeio! Custa-me dizê-la! Tenho medo.
Quando o meu pai ficou doente, há 10 anos atrás, linfoma/leucemia, "atenuavam" essa palavra horrível que não me sai pela boca, mas que anda constantemente no meu pensamento. Não é menos grave, não é bonito, é apenas uma forma de (para mim) aligeirar as coisas.

Quando descobrimos a doença, quando naquele final de tarde, sou chamada à cozinha para ouvir da boca dele a frase mais horrível, acreditei desde o primeiro segundo após o "tenho um cancro", que ia correr tudo bem. Depois, saí de carro, gritei muito, chorei muito e voltei para casa. Porquê ele? Há pessoas tão más... Não é justo! Nunca é! 

Eu já tinha perdido um pai. Não queria perder outro. 

Confesso que o facto de nos primeiros anos da doença, o meu pai não ter sido acompanhado no IPO, tapou-nos um bocadinho da realidade. Um hospital normal, com uma unidade de hematologia, onde apenas e só naquela unidade se viam casos semelhantes. E só adultos e adolescentes.

No ano passado, fomos apresentados a outra realidade! Fomos forçados a isso. 
Num país onde os médicos são obrigados a remediar doenças, num país onde os profissionais de saúde não têm ordem para tratar com a devida dignidade pessoas com mais de 50 anos, somos obrigados a usar cunhas para ouvir segundas opiniões e para sermos tratados como toda a gente deveria ser. 

Estou a generalizar, mas isto aconteceu com o meu pai e deve acontecer com tanta gente...

E assim fomos apresentados à realidade do IPO. Não podemos apontar nada aqueles profissionais. A todos. Do médico à senhora da limpeza! Ali criamos uma segunda família. Mas é duro. Muito, muito duro. O que vemos, o que ouvimos, o que sentimos.

Até ver temos conseguido vencer as batalhas! É quase impossível vencer a guerra. Há dias bons, dias menos bons e dias maus. Nunca mais vamos conseguir deitar a cabeça na almofada da mesma forma. Há sempre um "se" ou um "mas". 

Falo no conjuntivo, porque a doença é assim mesmo. Afeta uma família. Há um que sofre mais, física e psicologicamente, mas em tudo e para tudo vamos todos juntos. Todos sentimos a dor. Quando um precisa de mais ajuda, estão lá todos os outros. Quando um acredita menos, há sempre outro pronto a lembrar todos os sucessos já conquistados, quando um chora, há sempre outro que limpa as lágrimas. 
E assim, devagar, um dia de cada vez, tentamos esquecer A palavra. 

Hoje é o dia da luta contra o cancro. Hoje é o dia de todos os heróis. Nós temos o nosso. E todos os dias agradeço a Deus por isso.


3 comentários:

  1. Que texto lindo... Também conheci o cancro há um ano e meio atrás e sim, a doença é da família, é de todos...
    Um beijinho enorme

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  2. Minha querida Bi.

    Infelizmente conheci (conhecemos) a doença na fase que devia ser a melhor da minha vida. Logo após o nascimento do A.
    Caiu como uma bomba na nossa família, deixou-nos a todos de rastos.
    É horrível, leva-nos ao limite.
    O medo, a angústia, a sensação de termos sempre uma espada a planar (e a apontar) no cima da cabeça.
    A doença, a merda desta doença faz-nos pôr tudo em causa. Faz-nos relativizar tudo.
    As pessoas que passam por ela são uns heróis, uns heróis que lutam como ninguém.
    Adoro o teu texto! Adoro a vossa força, especialmente a do vosso herói.
    Que corra tudo muito bem.
    Força e muita saúde.
    Um beijinho*

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  3. É uma doença covarde… e é por isso que heróis como vocês (porque não é doença de um, afecta todos) é são tão importantes!!! Comoveu-me este teu texto! um grande beijinho

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