28 dezembro 2016

Recebi o meu presente de Natal... e não pedi!

Não tenho por hábito falar das acções de solidariedade em que participo. 
Ao longo do ano vou ajudando algumas instituições, com pequenos donativos ou com algo específico que peçam e que eu possa contribuir. Não faço publicidade disso para não ser mal interpretada e porque o faço de coração. Para mim. Possivelmente vou ser mal interpretada na mesma, mas não quero saber. 

Na semana passada, nem sei bem como, esbarrei no Facebook na página do Natal dos Esquecidos. Uma campanha que nos permite oferecer um presente de Natal aos sem abrigo. Li muitas das cartas com pedidos feitos pelas sem abrigo de Lisboa. Umas com presentes mais acessíveis que outras, mas  todas com os sonhos de cada um. Diziam o presente que gostariam de receber e o porquê. Quase todas as cartas tinham já sido "adoptadas" mas havia ainda algumas por atender. 
Escolhi uma, troquei um e-mail com o CASA - Centro de Apoio ao Sem Abrigo e fui ontem entregar o meu presente à instituição. 

Existe um motivo para não fazer voluntariado. Gosto de ajudar a distância. Conheço-me o suficiente para saber que não posso ter contacto com estas pessoas, mexe demasiado comigo. Não consigo. Não tenho estômago para encarar determinadas situações. 

Mas hoje fui apanhada desprevenida. Não sabia que isto ia acontecer. 
Tocou o meu telemóvel. Atendo e do outro lado alguém me diz: "Boa noite. Estou a falar com a B? Daqui aqui fala o Abilio e estou a ligar para lhe agradecer do fundo do coração o seu presente de Natal."

Não me interessam as circunstâncias. Se está ali porque não quer trabalhar. Se é um dos que a quem a crise tirou tudo. Ou dos que sempre conheceram a rua como lar. Decidi oferecer-lhe um presente. Decidi tornar o Natal daquela pessoa mais alegre. Mas não esperava ouvir a sua voz. Que fosse tão real. Falamos uns minutos. Eu, de voz embargada, a esforçar-me para que ele não desse conta de como estava comovida. E sem saber, o Abilio deu-me o melhor presente de Natal de todos. E não foi por me agradecer. Foi por ter-me feito sentir uma pessoa melhor. 
Obrigada eu, Abilio. 

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