A conversa mais difícil da minha vida...

Lembro-me como se fosse hoje. Foi em Setembro. Eu tinha 8 anos e uma mentalidade e responsabilidade fora do normal para uma menina que só deveria brincar com bonecas.

Na véspera, a minha mãe disse-me que ia com ela para o trabalho no dia seguinte. Lá fui...

No caminho foi-me dito. Os meus pais iam separar-se. Foi uma das coisas mais marcantes da minha vida, ainda que sem grande surpresa. As brigas e discussões constantes faziam-no prever. E muitas vezes pensava no assunto, tentando esquecê-lo logo de seguida. Como que, se não pensar, não acontece. Mas aconteceu. E foi muito duro. Os adultos tornam-se crianças e as crianças é que pagam. 

Não vivo, nem nem nunca vivi nenhum trauma com a separação dos meus pais, muito menos vivi com esse fantasma. Cresci feliz. E mais feliz do que se os meus pais se tivessem mantido juntos. Claro que não entendi isso no imediato. 

Hoje disse(mos) à minha (nossa) filha. "O papá e a mamã já não são namorados. São amigos, muito amigos, e gostam da Carlota mais do que qualquer outra coisa. Muito mais do que de chocolate e de gomas (para ela é a melhor comparação possível)!!" Não sei, no seu pequeno mundo com 3 anos de vida, o que fará com esta informação. Possivelmente nada. Irá apenas sentir que o Mundo dela se vai dividir em dois. Com duas casas. Estou a tentar fazer com ela tudo o que os meus pais não conseguiram fazer comigo. Poupar-me. Dar-lhe apenas e só as coisas "boas" desta novidade que se aproxima. Não deixá-la perceber mais nada além disso. Quero apenas que ela sinta que o seu porto seguro continuamos a ser nós. O Pai e a Mãe. Que poderá sempre contar com dois, juntos, porque por ela estaremos sempre os dois. Quero que um dia entenda que foi precisa muita coragem para tomar esta decisão. Que foi e é muito difícil...

Não é a novidade que gostaria de lhe contar neste momento. Nem nunca. Não é a vida nem a família que sonhei para a minha filha. Mas os pais também têm que estar bem para os filhos estarem bem. 

E espero que daqui a uns anos ela não guarde na memória este dia. Que não seja marcante, nem angustiante como é para mim lembrar-me do dia em que a minha mãe me disse que ia separar-se do meu pai. Espero que a felicidade que lhe proporcionamos se sobreponha a qualquer falha que possa haver pelo facto dela não crescer com os pais juntos. 

Hoje a C foi conhecer a casa do pai. Fiquei sem ar durante 3 horas. Ela levou o meu coração e durante 3 horas ele bateu fora do meu peito. Vagueei. Fiz-me à estrada e perdi-me no tempo e no espaço. 

Há dias que têm tudo para ser difíceis. Este foi particularmente difícil. Muito muito duro. Angustiante. 

Dentro do possível, que a partir daqui seja sempre a melhorar....